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OPINIÃO: Nova manchete para uma velha notícia

O Museu Nacional em chamas é uma espécie de metáfora do Brasil, se não o retrato cru e sem retoques de nossa realidade cultural. Infelizmente, somos um país que despreza sua história, que mitifica personagens de caráter duvidoso e que adora fazer análises descontextualizadas. Por isso, pouco ou nada aprendemos com a sucessão de episódios que nos levaram ao embretamento ético e político em que estamos.

O Museu Nacional em chamas é a confirmação do desprezo pela cultura, pela ciência, pela pesquisa e pelo conhecimento. É a confirmação do descaso pela história da humanidade. É um "lixe-se" para nossa própria história. Somos o país do faz de conta, do deixa para depois, o país cujos ajustes e concertos sociais e políticos são arranjos do acaso, por acreditarmos que "com o andar da carroça, as melancias se acomodam".

Somos um país em que os gestores públicos administram sem planejar; somos um país cujas elites políticas e econômicas se acreditam ungidas por bênçãos divinas, de sorte que a lei alguma se devem submeter e a ninguém devem explicação. O Museu Nacional em chamas é o atestado da incúria estatal, firmado em página encimada pelas armas da República, com firma reconhecida e chancela oficial. Só faltou a publicação no Diário Oficial da União. Somos o país do futuro que nunca chega, somos a pátria do novo sebastianismo, sempre à espera do herói redivivo que chegará para nos levar à redenção e nos alçar, certamente, aos píncaros da glória.

O Museu Nacional em chamas é a manchete de uma velha notícia, cujo texto fala de nossa incapacidade crônica de tratar das coisas animicamente mais importantes da vida e de nossa incompetência para resolver questões basilares da construção de uma identidade nacional, que transcenda as coisas ligadas à seleção de futebol. Somos o país onde o fanatismo ideológico corrompe os pilares da tolerância, sobre os quais se poderia assentar o diálogo capaz de nos permitir a travessia do pântano sombrio no qual estamos metidos, para, finalmente, alcançarmos a modernidade, a paz social e o desenvolvimento socioeconômico.

Somos um país literal e metaforicamente doente. E a pior das doenças é a da alma, que nos impede de produzir soluções nascidas de um consenso mínimo em torno das questões fundamentais da nação. Pensando no texto que escreveria, lembrei de Voltaire, que, no século XVIII, tratando da intolerância religiosa e do sistema judiciário (o livro foi o início de vitoriosa campanha pública para reabilitação do protestante Jean Calas, condenado à pena de morte e executado pelo suposto assassinato do próprio filho, que se converteria ao catolicismo (já havia fake news na época), escreveu Tratado sobre a tolerância. No capítulo em que arrola testemunhos da própria Igreja Católica contra a intolerância, cita o Cardeal Le Camus, que diz: "Lembrai-vos de que os males da alma não se curam pelo constrangimento ou pela violência".

O Museu Nacional em chamas, e as pesquisas eleitorais são apenas sintomas da doença que não conseguimos curar.

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